As Cartas que nunca te escrevi (20 novembro 2012)
" Dedicado a ti meu irmão do coração, que estejas com Deus e em paz. Eu sei que zelas por todos nós meu anjinho da guarda."
Dedicado a: Marco António Pereira Chasqueira
20 de novembro de 2012
Lembro-me todos os dias de ti, todos os dias há algo que me faz vir à memória uma caraterística tua, um momento passado contigo, e até a forma súbita, inesperada e brusca com que partiste.
A tua partida (embora eu não transpareça) mudou a minha vida, mudou-me a mim própria. Desde aquele terrível dia que não sinto paz, que sinto um vazio enorme dentro do meu peito.
Eu, realmente, já não sei quem sou, já não sei nada. Só sei que me fazes falta, só sei que tenho de encontrar a paz embora não saiba onde procurá-la.
Enquanto em vida eu pensava (tristemente) que nós tínhamos seguido rumos diferentes, que eu já não fazia parte da tua vida e que tu já não fazias parte da minha; enganei-me redondamente, porque o amor ainda estava lá, porque a amizade e o carinho ainda estavam lá. Agora em morte vejo o quanto estava errada e o quanto eu te amava.
Pergunto-me, vezes sem conta, o porquê da tua partida. Não encontro respostas, a cada pergunta que surge só encontro mais perguntas para fazer.
Tudo aquilo que antes eu tinha como garantido evaporou-se, as garantias tornaram-se incertezas, e as incertezas consomem-me por dentro.
Lembras-te dos nossos planos de criança? Lembras-te da esperança e da certeza com que faziamos esses planos? Eu lembro-me como se tivesse sido onteme tenho tantas saudades!
Lembro-me de um dia me dizeres assim: "Um dia vou ser rico e vou construir duas casas enormes, com piscina e tudo. Vou construí-las na horta dos nossos avós e nós vamos para lá morar os dois prima!", e eu acreditei nestas palavras piamente e continuámos esta conversa durante horas a fio, a dizer como iriam ser as nossas casas e a nossa piscina, as festas que íamos organizar, enfim...
Dou por mim tantas vezes em busca do teu rosto, vejo um rapaz na rua e olho para ele à procura de um pouquinho de ti, ouço uma gargalhada e julgo ter ouvido a tua gargalhada, olho para a tua casa e tento encontrar-te na janela ou entre os cortinados. Tudo isto em vão, tudo isto tirnando-se inútil porque tu não estás cá.
Naquele dia quando me deram a notícia eu não queria acreditar, parecia que estava num sonho e eu só dizia a mim mesma: "Ana acorda, mas porquê que não acordas?!". Ainda hoje sinto que não estou acordada e muitas vezes pergunto-me o mesmo que nesse primeiro dia: "Ana acorda, mas porquê que não acordas?!". Desde esse dia que sinto uma dormência, que sinto que adormeci e ainda não fui capaz de acordar.
Queria que tivesses conhecido a minha casa, a minha humilde casa que não tem piscina como a que idealizámos, mas mesmo assim queria que a tivesses conhecido. Queria que tivesses conhecido e brincado com o meu cão; lembras-te de eu sempre dizer que quando fosse para a minha casa ia ter um cãozinho?! Queria te ter dito e ter feito tanta coisa contigo...
Agora resta-me as recordações, as lindas recordações que tenho tuas. Lembras-te de quando ficava furiosa porque te punhas a mandar pedrinhas à janela do meu quarto?! Mandavas as pedrinhas e depois a minha avó vinha ralhar comigo. Sinto saudades de ouvir as pedrinhas a bater na minha janela, de me vires pedir ajuda nnnos trabalhos de casa, de vires dormir a minha casa e eu à tua, de fazeres caracóis no meu cabelo para adormeceres...sinto tantas saudades!
Lembro-me das nossas brincadeiras tão bem, só faziamos disparates mas divertiamo-nos e eramos tão amigos mas tão amigos, embora às vezes nos zangassemos, mas os irmãos é mesmo assim não é?! Zangam-se e depois fazem as pazes?!
Primo, estas serão as cartas que nunca te escrevi! Eu sei que vais lê-las, eu sei...
Ana Lúcia Pereira
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