Meu fragmento psicopatológico!
Olhas-me nos olhos e desencorasjas-me de prosseguir!
Olhas para mim e a imagem refletida não me dá alento, dá vontade de desistir, de fugir, de deixar tudo para trás...
...mas em vez disso...
...correm-me as lágrimas pelo rosto, as palavras ficam encravadas e entorpece-me a mente.
Já não tenho alento para prosseguir, cada pequena ação, cada pequeno detalhe sussurra-me ao ouvido: "Falhas-te a tua missão!".
Nada faz sentido, já nada é igual!
Onde está o ânimo? Onde está a euforia? Onde está a expetativa? Onde está o brilho das coisas terrenas? Onde está o espanto? Onde estão os seres humanos que nos iluminam num só olhar?
Nada brilha, tudo é baço!
Dizes-me todos os dias, sem te cansares, que falhei e ainda consigo ver no teu rosto um pequeno fragmento de sorriso por me veres falhar. O meu rosto vai entristecendo e a tua glória vai aumentando. Quando vejo esse fragmento de sorriso maléfico na tua cara dá-me vontade de partir o espelho, agarrar-te pelo pescoço e estrangular-te! Mas não, em vez disso, correm-me as lágrimas pelo rosto.
És um ser masoquista que me tortura a mente em busca de saciar a sua sede!
Poluis todo o meu ser com a tua maldade e ainda te vanglorias!
Mas sabes que sem mim nada és, então torturas-me até ao ponto ideal, em que eu não morro e tu manténs-te mais vivo que nunca.
Tens o poder de me fazer odiar tudo, fazes-me sentir que as trevas são o meu único conforto, dás-me vontade de me esconder e de fugir do mundo.
Pergunto-me: "E quando eu morrer, para onde vais?".
Habitas na minha mente, apoderaste do meu corpo e enfraqueces-me o coração. A minha única fuga é escrever, mas até aí tu tens de intervir, tens de aparecer e vanglorias-te novamente.
Não posso mais viver contigo mas também já não me imagino a viver sem ti, porque tu és assim, tu és uma droga de melancolia que vicia e não deixa que eu me desintoxique. Tu és a minha psicopatologia que me enfraquece a mente e me deixa num estado de tristeza intensa que se torna inebriante.
Mas tu nunca vais conseguir uma coisa...tu nunca vais ser Eu, sabes porquê? Porque tu és um fragmento meu, não passas disso. O Eu concretamente não conseguirás nunca alcançar, porque o meu ser é fragmentado!
Ana Lúcia Pereira

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